
Presidente do Flamengo critica modelo europeu e propõe alternativa nacional para controle financeiro. Entenda o que mudaria no cenário brasileiro.
O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o BAP, reacendeu o debate sobre o fair play financeiro ao afirmar que o modelo da UEFA não serve para o Brasil. Em entrevista recente, ele disse que aplicar esse sistema de forma rígida seria ignorar a realidade econômica e estrutural dos clubes brasileiros. Para ele, o caminho é criar um modelo próprio, adaptado ao cenário nacional.
A fala de BAP levanta uma questão importante: o que aconteceria se o Brasil adotasse o fair play financeiro europeu hoje?
O que é o fair play financeiro?
O fair play financeiro foi criado pela UEFA para evitar que clubes gastem mais do que arrecadam. Ele limita os déficits e impõe punições que vão desde multas até exclusões de torneios.
Segundo o modelo europeu:
- Clubes não podem acumular déficits superiores a €5 milhões em três anos;
- Gastos com salários e transferências devem estar alinhados às receitas;
- Sanções incluem perda de pontos, rebaixamentos e banimento de competições.
Como seria o cenário no Brasil?
Se esse modelo fosse adotado com rigor no futebol brasileiro, grandes clubes estariam sob risco real de punições severas. Isso inclui desde a perda de pontos até o rebaixamento por má gestão financeira.
Com base em dados de 2023 e 2024, os seguintes clubes estariam ameaçados:
- Botafogo: mais de R$ 349 milhões em prejuízo;
- Vasco: déficit acima de R$ 210 milhões;
- Bahia: rombo superior a R$ 140 milhões;
- Cruzeiro e Atlético-MG: acumulam déficits consecutivos há anos;
- São Paulo: dívida elevada e desequilíbrio entre gastos e receitas.
Em contrapartida, clubes como Flamengo, Athletico-PR e Santos mantêm equilíbrio financeiro e se encaixariam nas exigências do modelo europeu.
Casos históricos na Europa
Na Europa, o fair play financeiro já resultou em punições históricas a clubes tradicionais.
⚫ Juventus (Itália)
Em 2023, a Juventus perdeu 10 pontos no Campeonato Italiano por manipular balanços financeiros. A penalização se somou a anos de vigilância após o escândalo de 2006, que também culminou no rebaixamento à Série B (embora por manipulação de resultados, não finanças).
🔵 Rangers FC (Escócia)
O Rangers declarou falência em 2012 após acumular dívidas superiores a £100 milhões. Foi rebaixado à 4ª divisão e precisou reconstruir sua história desde a base. Hoje, serve como exemplo claro do impacto do descontrole financeiro.
🟡 Parma (Itália)
O clube italiano faliu em 2015 com dívidas na casa dos €200 milhões. Foi rebaixado à Série D, mesmo tendo participado da elite europeia nos anos 1990. Retornou gradualmente, mas jamais recuperou seu protagonismo.
🇫🇷 Ligue 1 (França)
A DNCG, órgão regulador do futebol francês, é implacável. O Bordeaux chegou a ser rebaixado administrativamente por não comprovar viabilidade financeira. Até o poderoso Paris Saint-Germain enfrentou sanções em 2014 por contratos de patrocínio inflacionados.
O modelo de BAP: uma proposta nacional
Segundo BAP, o problema do fair play europeu é que ele “pune o clube quando a coisa já deu errado”. Para ele, o Brasil precisa de um sistema que atue de forma preventiva, e não apenas repressiva.
Entre as propostas de BAP estão:
- Transparência obrigatória nas finanças dos clubes;
- Acompanhamento contínuo com alertas de risco;
- Incentivos para boas práticas, como bônus para clubes com balanço equilibrado;
- Controle de receitas de SAFs com mais rigor.
“Não podemos copiar um modelo europeu e achar que vai funcionar aqui. É preciso respeitar as diferenças e pensar o futebol como parte da cultura e da realidade brasileira”, afirmou.
Seria o fim do ‘gigantismo’ irresponsável?
O que BAP propõe é um modelo mais adaptado à realidade local, mas que não deixe de responsabilizar más gestões. No entanto, se o Brasil tivesse adotado o sistema europeu, muitos clubes estariam na Série B ou até fora das competições.
O fair play financeiro pode, sim, proteger o futebol — mas precisa de equilíbrio entre punição e prevenção.